quinta-feira, 31 de março de 2011


TEM ALGUÉM AÍ?

O telefone toca
Vou atender
Não dizem nada
Creio que seja alguém
Que não se conforma
De ter perdido a vez
Ou quem sabe alguém
Que não sabe dividir as coisas
Que quer as coisas só pra si
Quer ter o domínio da situação
Mas não é assim que funciona
Aqui ninguém é dono de nada
Toca outra vez
E mais uma vez o silêncio
Do lado de lá, vozes abafadas
E um misto calado
De raiva, anseio e ciúme
Do lado de cá, riso e paz
Não me abato
Digam o que disserem
Ou mesmo que tentem em silêncio
Afastar-me do caminho
Não há o que me desvie
Sei muito bem com quem estou
Pois que inventem
Que mintam
Que telefonem
Digam o que quiserem
Esse tipo de desespero não me agrada
E nem é esse o tipo de mordida que me sangra
Não gosto de coisas veladas
Prefiro dentes à mostra
Coisas postas na mesa
Não me escondo
Não há do que se esconder
Eu estou aqui
Mais uma vez o telefone toca
Do outro lado da linha
O silêncio sugere uma frustração
Por um querer que já não ecoa
Do lado e cá, vinho tinto e leveza
Passos libertos de um querer que avança
E desliza sobre o infinito
O barulho dos carros
Não me impede de ouvir a respiração ofegante
Do outro lado da linha
Misto de decepção, posse e orgulho ferido
E uma espécie de agonia insana que lhe toca a alma
Ao perceber que faça o que fizer, diga o que disser
O ontem já passou
E que por mais que a música ainda toque
É em vão esperar por uma dança que não mais se realiza
Do lado de lá dor e um silêncio seco
Do lado de cá inspirações, plenitude, respeito e nada de telefonemas.
E por falar em telefonemas, afinal, tem alguém aí?

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