quinta-feira, 31 de março de 2011


TEM ALGUÉM AÍ?

O telefone toca
Vou atender
Não dizem nada
Creio que seja alguém
Que não se conforma
De ter perdido a vez
Ou quem sabe alguém
Que não sabe dividir as coisas
Que quer as coisas só pra si
Quer ter o domínio da situação
Mas não é assim que funciona
Aqui ninguém é dono de nada
Toca outra vez
E mais uma vez o silêncio
Do lado de lá, vozes abafadas
E um misto calado
De raiva, anseio e ciúme
Do lado de cá, riso e paz
Não me abato
Digam o que disserem
Ou mesmo que tentem em silêncio
Afastar-me do caminho
Não há o que me desvie
Sei muito bem com quem estou
Pois que inventem
Que mintam
Que telefonem
Digam o que quiserem
Esse tipo de desespero não me agrada
E nem é esse o tipo de mordida que me sangra
Não gosto de coisas veladas
Prefiro dentes à mostra
Coisas postas na mesa
Não me escondo
Não há do que se esconder
Eu estou aqui
Mais uma vez o telefone toca
Do outro lado da linha
O silêncio sugere uma frustração
Por um querer que já não ecoa
Do lado e cá, vinho tinto e leveza
Passos libertos de um querer que avança
E desliza sobre o infinito
O barulho dos carros
Não me impede de ouvir a respiração ofegante
Do outro lado da linha
Misto de decepção, posse e orgulho ferido
E uma espécie de agonia insana que lhe toca a alma
Ao perceber que faça o que fizer, diga o que disser
O ontem já passou
E que por mais que a música ainda toque
É em vão esperar por uma dança que não mais se realiza
Do lado de lá dor e um silêncio seco
Do lado de cá inspirações, plenitude, respeito e nada de telefonemas.
E por falar em telefonemas, afinal, tem alguém aí?

terça-feira, 29 de março de 2011

NAVEGAR É PRECISO

O barco zarpou do cais lá pelos primeiros dias do último agosto. O mar estava tranqüilo, o que indicava uma viagem sem grandes temporais. Na bagagem alguns livros, filmes, músicas, coisas afins. Nenhuma certeza, nenhuma promessa, nada, apenas uma vontade comum de navegar, descortinar caminhos, passear por dentro um do outro.
Às vezes ancoramos em outros portos, porém, acabamos sempre voltando a nossa embarcação, porque sentimos que há algo ali, algo profundo. Seguimos viagem, não temos medo, nem pressa, nem destino certo, sabemos apenas que queremos navegar e que queremos mais do que pensávamos que queríamos. Nunca bebemos a última gota, assim, estamos sempre provocando nossa sede, seja ela qual for. Temos o riso, o desejo e a leveza como companheiros de viagem e eles tornam nosso navegar cada vez mais constante. Jogamos no mar todos os desassossegos, todas as cobranças, todos os desalinhos que pudessem colocar em risco nosso singrar. Hoje já navegam conosco, algumas palavras acolhidas pelas certezas que vestem nossos sentimentos. No cais dessas certezas estão ancoradas nossas individualidades, nosso respeito mútuo, e uma espécie de encantamento de um pelo outro. Não sabemos exatamente pra onde vamos, mas sabemos por onde ir, pra não perder a meada do fio.Nada do que sentimos faz com que deixemos de ser nós mesmos. Sabemos quem somos. Já nos sabemos a ponto de compreender quando é dia de aportar e quando é dia de seguir viagem, e também que às vezes aportar significa seguir viagem e seguir viagem pode significar aportar. Tudo vai depender do desespero dos ventos e de nossas mãos que acalentam os mares de nós dois. É como se estivéssemos a deriva, a mercê das ondas que nos envolvem, pra saber aonde isso tudo vai parar. Creio que realmente estamos. É bom estar à deriva, e melhor ainda quando chove no mar. Estamos em paz. E estar em paz com nosso navegar, é infinitamente o que nos importa. Seja mar ou seja cais, é só isso que nos importa.



Ana Mascarenhas – 29/03/11



segunda-feira, 28 de março de 2011

CAMINHOS DO CORAÇÃO/ ANA MASCARENHAS E RICARDO FRAGOSO
FABRÍCIO PARDAL MOURA/ BAIXO
DANIEL ZANOTELLI/ SAX SOPRANO
JUCÁ DE LEON/PERCUSSÃO


Quem pode ter absoluta certeza sempre, dos Caminhos do coração, não é mesmo?
A vida é uma constante surpresa, portanto... apenas viva e se deixe surpreender!



Ana Mascarenhas - 28/03/11 

quinta-feira, 24 de março de 2011

Fotos Show Flor Palavra/ Inflorescência (Por Luiza Hypolito) Dezembro 2010


Com Ricardo Fragoso, grande parceiro em várias canções




Embora não apareçam todos na foto, todos estão lá! Sem eles, minha voz, cala.




Grande momento! Valeu filho! Outros palcos virão!



...essa flor virou palavra, virou palavra em mim...





quarta-feira, 23 de março de 2011

Lua, lua, lua

Quem me conhece sabe, sou suspeita pra falar da lua. Digamos que tenho com ela uma relação de grande intimidade. Ela enfeita minhas noites, acalenta meus desconfortos, ouve minhas lamúrias e ainda me deixa cantar pra ela. Eu a tenho tatuada em meu ombro e a carrego todos os dias num anel, pra cima e pra baixo. Gosto de todas as formas como ela se mostra, mas confesso que fica ainda mais linda quando sorri num crescente. Ontem fiquei esperando por ela na beira da lagoa, enquanto a faceira se banhava naquelas águas. Depois emergiu soberana, dançando lenta com a escuridão. Rasgou a noite com seu rastro e se pôs ali, a cuidar dos barcos. Logo após, acompanhou-me até em casa e diga-se de passagem foi até lá cochichando no meu ouvido, pedindo que eu escrevesse algo pra ela. Assim, fui descansar aninhada nas coisas que ela me inspira. E ao amanhecer a lua se fazia palavra através dos meus versos. Agora, ja faz uns dias que não a vejo, mas por certo virá qualquer dia desses me acordar de manhã.


Ana Mascarenhas - 23/03/11



terça-feira, 22 de março de 2011

Umbigos, sorrisos e luz de velas


Luzes apagadas, banho de canequinha, chuveiro frio, geladeira vazia.Algumas peculiaridades de um tempo que ja passou. Nada de raiva, nada de vingança. Um grande aprendizado e uma certa tristeza ao perceber que algumas pessoas não querem enxergar nada além do que seu próprio umbigo. Nada de lamentações, nada de sofrimento, apenas uma certeza de que ando em busca de alguma dignidade que envolva feijão, amor e pão e que mantenha minha casa abastecida de calor humano garantindo a presença daquele que nasceu de mim mas que é do mundo, mas que mesmo sendo do mundo, também é parte de mim.
Nada de esmorecer, nada de olhar pra trás. Na mão uma caneta, na mesa uma folha de papel, grandes aliados da alma nessa estrada cheia de tropeços que é a vida. Por vezes tropeçamos e até caímos, e é assim mesmo, faz parte do caminho. Nada que um bom abraço não possa curar. O importante é levantar e estar atento ao que te cerca. Pessoas de vaidades veladas, com sorrisos demasiados e prontos pra qualquer ocasião. Pessoas com sorrisos amarelos, ao mesmo tempo que fingem estender a mão pra você, com a outra desligam o interruptor e apagam sua luz. Ou simplesmente não a acendem, mesmo que voce peça que o façam.

Ana Mascarenhas - 22/03/11

segunda-feira, 21 de março de 2011

A FESTA

Há tempos não via muitas daquelas pessoas.
Foram chegando devagar,
Algumas sozinhas,
Outras em bando.
O som ia tomando conta do lugar.
Os copos iam ficando cheios,
Depois vazios,
Depois cheios outra vez.
Sentimentos se misturando
Com álcool,
Segredos revelados
A cada cigarro.
Paixões aflorando entre uma musica e outra,
Fisionomias se modificando a cada gole.
Olhos buscando outros olhos,
Olhares perdidos no vazio
Da noite que dança.
Anseios desmedidos,
Bocas que beijam sem sentir,
Juras e promessas sob a luz do neon
Abraços rompendo a madrugada
Depois,
Um balé solitário
Mais uma dose
Um passo em falso
E o dia amanheceu
Sem avisar
Agora não tem mais musica
Só copos pelo chão
Cadeiras vazias
A festa acabou
É hora de ir pra casa
E acordar ao entardecer


Ana Mascarenhas – 22/03/11













quinta-feira, 17 de março de 2011

EMPREGO RELÂMPAGO


Atualmente fala-se muito em seqüestro relâmpago, assalto relâmpago, almoço relâmpago e até, em sexo relâmpago. Porém, nos últimos dias fui sorteada com uma nova modalidade relâmpago da qual eu e meu perfil, nunca tínhamos ouvido falar,que é o emprego relâmpago. Os patrões relâmpago costumam agir de forma velada e abusam da dignidade de suas vítimas através do constrangimento, e em pouco mais de 24 horas, você consegue e perde o novo emprego. Cabe salientar que você ao acreditar que vai melhorar de vida, pede demissão de seu emprego atual. Patrões relâmpago, mesmo que conheçam você, não tem perfil para dizer o que pensam, preferem mandar o recado, constrangendo assim quem teve que fazer o papel de pombo correio. Suas vítimas geralmente são pessoas que acreditam na ilusão de um emprego mais bem remunerado , são donas de grande sensibilidade e  entendem que convicções, ideologias, valores, ética, verdade, coragem e comprometimento são princípios carregados em uma bandeira que vai muito além do perfil. São estes princípios que são responsáveis pela formação do caráter das vítimas que eles escolhem, ou escolheram.
Cuidado com eles! Enquanto você não se torna vítima, costumam ser sorridentes, depois atravessam a rua para não ter que encará-lo.
Prestem atenção, isto não é bobagem, aconteceu comigo, não deletem! Soltem as tiras e sintam os cheiros.
Enquanto isso, eu e meu caráter, agradecemos todos os dias pelo perfil que temos. 



Ana Mascarenhas - 17/03/2011




segunda-feira, 14 de março de 2011

TUDO EM SILÊNCIO


Cada vez que dizes, diz tudo pra mim, abre-se diante de mim um leque de possibilidades. Poderia sim dizer-te tudo, mas nada do que eu dissesse abarcaria o que está nas entrelinhas. E eis o que me agrada de fato. Que entre nós dois nada é óbvio e que sempre há algo latente. Não quero perder esse mistério. Não quero saber nem dizer tudo. A magia está exatamente naquilo que não dizemos, a magia está naquilo que não está descoberto. Não quero descortinar esse tudo. Esse é o ponto para que nossas almas não se cansem e voem cada vez mais alto. E eu, quem diria, que venho descobrindo a cada dia que não tenho mais medo de voar.


Ana Mascarenhas - 14/03/11



domingo, 13 de março de 2011


ÁGUAS DE MARÇO


Em meio a tantas coisas que estão acontecendo, não consigo escrever. Minha cabeça está cheia de palavras, mas elas estão desconectadas. Escrevo, apago, desisto, volto, tento mais uma vez, deixo as palavras arrefecerem dentro de mim enquanto as águas de março vão solapando cidades, casas, vidas. Talvez não consiga dizer nada, porque qualquer coisa que diga soará como um sussurro diante de tanta destruição. Por enquanto fico em silêncio, apenas lembrando o tempo em que se tomava banho de chuva e depois voltava pra casa pra tomar banho de chuveiro e um chá quente pra não se gripar. Fico lembrando o tempo, em que precisávamos tomar cuidado com o mar, apenas se estivéssemos dentro dele. Hoje, pra muitas pessoas, não há mais casa pra voltar depois do banho de chuva e o mar virou um grande inimigo. Alguém pode dizer ou fazer alguma coisa? Existe aí no seu computador algum botão que possa ser desligado? Não tenho respostas nem certezas, nem sei se algo ainda pode ser feito.
Na minha cabeça as palavras continuam desconexas e resta apenas uma imagem que não consigo apagar. A mão do homem. Não sei o que dizer. Por hora, é melhor calar.



Ana Mascarenhas – 12/03/2011

quarta-feira, 9 de março de 2011

  BOCA DA NOITE



A noite está mordendo.
Mordidas secas
Dentes grandes e afiados.
Uma densidade obscura pairando no ar.
Motoristas apressados,
Motociclistas imprudentes.
Frustração, ansiedade, miséria, ilusão
Tudo vertendo sobre a calçada.
Um prato cheio de veneno e mel
Escorrendo pelos cantos da boca da noite.
Não há silêncio,
Há apenas o rugido ensurdecedor da boca da noite
Pronta pra engolir a todos.
É carnaval,
Mas nessa avenida não há foliões,
Nem pierrôs a espera de colombinas.
A boca da noite já engoliu o samba enredo,
A bateria já silenciou, não há repiques nem tamborins.
Mestre sala e porta bandeira, ainda mostram seus passos
Reverenciando a noite, na tentativa de não serem tragados por ela.
As esquinas retumbantes soçobram a meninice
Daquelas que pensam que podem ludibriar a boca da noite
Com sapatos de salto alto, olhos brilhantes e batons cor de carmim.
Nada mais importa. Sentem-se poderosas!
Em suas bocas, o sorriso de quem crê que venceu na vida,
Enquanto a maldade de quem as “banca” se mistura a cerveja que vão sorvendo vorazmente.
Não há o que se possa fazer. A boca da noite já espalhou o seu veneno quando cravou seus dentes em todos eles, já passa da meia-noite, e agora não há como estancar.
Nossa cerveja perde o gosto. Nossos olhos procuram algo que certamente, naquela noite, não encontraremos ali. Queremos nosso silêncio, e mesmo de longe, continuamos ouvindo a boca da noite cravar seus dentes naqueles que acreditam que podem detê-la.
Não há nada a fazer. É hora de ir embora, antes que ela crave seus dentes em nossa ternura.





terça-feira, 8 de março de 2011

Mulheres que encantam

Um salve a todas as mulheres, grandes lutadoras do dia a dia!!Lutadoras nos palcos, nas casas, nas praças, nas ruas, nos escritórios, nos campos, nas escolas, nas cozinhas! Salve as que lutaram e ja partiram, e salve as que continuam lutando!!! Salve hoje, e sempre!!

Ana Mascarenhas - 08/03/2011

segunda-feira, 7 de março de 2011

QUEM DERA

É assim, sinto quando não vens.
Meus sentidos sabem exatamente
Quando virás
E quando estás em viagem por outros abraços.
Quem dera hoje me surpreendesses
E que estivessem errados os meus sentidos
E viesses viajar nos meus braços.
Quem dera hoje ainda tenhas vontade
De estar aqui.
Hoje sinto falta sim
Da tua risada
Da tua voz dizendo meu nome
Do teu cheiro impregnando minha casa
Do teu braço que me abraça
Do teu deboche com minhas palavras.
Hoje sou uma mulher
Que sente falta do seu homem.
Hoje quem dera ainda venhas
Atravessar os meus desertos
E dormir um pouco em minha cama.
Quem dera hoje dissesses, diz tudo pra mim
E eu diria sem titubear.
Talvez seja por isso que não venhas,
Talvez não te agrade esta que sou hoje,
Porque hoje sou uma mulher
Que sente falta do seu homem.


Ana Mascarenhas – 07/03/2011

domingo, 6 de março de 2011

LETRAS DE MÚSICA

Todas as fotos da série FLOR PALAVRA, são de Luiza Hypolito




  
FLOR PALAVRA




O TEMPO ESTANCA FERIDAS
O TEMPO INVENTA MEDIDAS
O TEMPO TE LEVA PRA LONGE
TALVEZ ATÉ, PRA NUNCA MAIS
O TEMPO TE GUARDA AQUI DENTRO
O TEMPO TE ESCONDE DE MIM
O TEMPO TE TROUXE PRA VIDA
O TEMPO TE TROUXE PRA MIM

DE BRAÇOS DADOS COM O TEMPO
TEU SILÊNCIO VIAJA
E NO SILÊNCIO DO TEMPO
PALAVRAS ENVELHECEM
E OUTRA VEZ O SILÊNCIO
VEM DANÇAR PERTO DE MIM
E EU QUE SÓ DANÇO COM O TEMPO
AFASTO O SILÊNCIO DE MIM

TE ENCONTRO ATRAVÉS DO TEMPO
O TEMPO TE MOSTRA PRA MIM
O TEMPO ESCONDEU AS FERIDAS
E O SILÊNCIO ESTANCOU O FIM

SENTIMENTOS NÃO SÃO ESTANQUES
PESSOAS SÃO COMO JARDINS
E NO JARDIM DO MEU TEMPO
CRESCE EM SILÊNCIO UM FLOR

UMA FLOR QUE NÃO SE ESCONDE
UMA FLOR QUE QUER A LUZ
ESSA FLOR VIROU PALAVRA
VIROU PALAVRA EM MIM


Ana Mascarenhas - 08/07/2005





CATAVENTO


MOMENTO
SENTIR
SENTIMENTO
MOMENTO MEU
MEU SENTIMENTO
MEU SENTIR EM MOVIMENTO
UM CATAVENTO SOBERANO EM SOLIDÃO
MEU SENTIR SOZINHO
PASSEIA COM TEU NÃO SENTIR
ACOMPANHADO DE GENTILEZAS TERNAS
MEU SENTIR EM SILÊNCIO
QUERIA PODER
ME ENROSCAR
NA SUTILEZ DOS TEUS PASSOS
E ADORMECER FEITO CONCHA
SORRINDO, MERGULHADA NA IMENSIDÃO
DOS TEUS ABRAÇOS

Letra/Ana Mascarenhas- 17/11/2006/ Música/ Cardo Peixoto 









RUAS DO PORTO


EU MORO NO PORTO E É LÁ
QUE EU GOSTO DE MORAR
ENTRA ANO, SAI ANO E EU SEI
NINGUÉM ME TIRA DE LÁ
TEM GENTE DE TODO JEITO
QUE TAMBÉM VIVE POR LÁ
CRIANÇADA CORRE SOLTA
CANSA DE TANTO BRINCAR
TEM SINUCA NO KATANGAS
TEM O JARA, O MAFUÁ
PORTO DAS ARTES PINTANDO
TEM O LANCHE DO DADÁ

EU MORO NO PORTO E É LÁ
QUE EU GOSTO DE MORAR
ENTRA ANO, SAI ANOE, E EU SEI
NINGUÉM ME TIRA DE LÁ

DON QUIXOTE A SEXTA- FEIRA
PARA QUEM QUISER DANÇAR
E SE SEGUIR ANDANDO
UMA TABERNA VAI ACHAR
QUEM MORA NO PORTO
SEMPRE TEM O QUE CONTAR
HISTÓRIAS DO BAR DA HELÔ
SAIDEIRA NO DELAMAR
QUERENDO ESPAIRECER
É SÓ CAMINHAR
PELAS RUAS DO PORTO SE DEIXANDO ENCANTAR
COM SUAS BELEZAS, CASARIOS E PAINEIRAS
E PRA TERMINAR, SÃO GONÇALO AO LUAR

EU MORO NO PORTO, E É LÁ
QUE EU GOSTO DE MORAR
ENTRA ANO, SAI ANO, NINGUÉM ME TIRA DE LÁ


Letra- Ana Mascarenhas - Março de 2004/ Música/ Ricardo Fragoso




LUA DE AMOR E ALMA


A LUA PRA SEMPRE VAI
CONTAR E ESTÓRIA DO NOSSO AMOR
PRA SEMPRE FICAR NA MEMÓRIA
O QUANTO A LUA NOS ABENÇOOU

DE PRATA PINTAVA O CÉU
NOVA OU CRESCENTE, MINGUANTE OU CHEIA
COMA ENERGIA REFLETINDO
SOBRE NÓS, INTEIRA

LUA, LUA, LUA, LUA
GUARDA EM TUAS ALAMEDAS
A ESSÊNCIA DESSE AMOR BONITO
QUE EU PENSEI PRA VIDA INTEIRA

A ALMA PRA SEMPRE VAI
GUARDAR A LUA DO NOSSO AMOR
PRA SEMPRE FICAR NA MEMÓRIA
O QUANTO A ALMA NOS ENCANTOU

ALMA, ALMA, ALMA ALMA
GUARDA EM TUAS PROFUNDEZAS
A LUA DESSE AMOR BONITO
QUE EU CANTEI PRA VIDA INTEIRA

O RIO DESÁGUA NO MAR
A LINDA ESTÓRIA DO NOSSO AMOR
PRA SEMPRE FICAR NA MEMÓRIA
QUANTO O MAR NOS SERENOU

RIO, RIO, RIO, RIO
DESÁGUA EM TUAS CORRENTEZAS
A FORÇA DESSE AMOR BONITO
QUE NAVEGOU POR MAR INTEIRA

Letra e música - Ana Mascarenhas - 04/02/2009







OUTRO NORTE

NÃO QUERO TEU JOGO, NÃO
MEU CORAÇÃO NÃO COMPORTA
TEU AMOR DIVIDIDO, TEU AMOR AO MEIO
TEU MEIO AMOR
TUA ALMA ME AMA, MAS É PRA OUTRO RUMO
QUE TEU PASSO SE VOLTA
NÃO VOU ME ABRIGAR NO PASSADO
NEM TÃO POUCO POETAR O FUTURO
QUERO VIVER UM AMOR INTEIRO
QUE ME COMOVA, QUE ME ARREPIE, QUE ME TOQUE!
MEU CORAÇÃO NÃO CONSENTE
TEU AMOR DE MIRAGEM
TEU AMOR DE NINGUÉM
QUE HÁ MUITO TEMPO NÃO ME MORA
MEU CORAÇÃO BASTOU
E ARRISCOU UM CORTE
MEU CORAÇÃO NÃO MAIS HOSPEDA
TEU AMOR EM OUTRO NORTE


Letra e música- Ana Mascarenhas - 11/01/2009

sábado, 5 de março de 2011

Dentro de poucos dias, estaremos comemorando o Dia Internacional da Mulher. Deixo aqui minha homenagem a essa grande mulher cuja voz segue ecoando dentro de cada um de nós. Isso é cantar com o coração! Salve La Negra! Siempre!


Ana Mascarenhas - 06/03/2011

LATIFÚNDIO CULTURAL



Preciso ter cuidado ao falar deste lugar. Não quero cair num saudosismo barato, mas ao remexer em caixas, CDs, e cartazes, coisas foram voltando a minha memória como se ainda ontem estivéssemos lá. Todos nós. Lugar pequeno, aconchegante, cheio de calor humano e muitas diversidades culturais.
Aquilo era um nascedouro por si só. De lá nasceram amizades, poesias, musicas, projetos, amores. Ótimo café expresso. Lindos cartazes impressos. Noites memoráveis. Dias intensos. Nos dias e nas noites de frio, nosso fogãozinho a lenha cumpria bem o seu papel. Cada um que ia chegando se encarregava de alimentar o fogo. Nas noites de poesia íamos alimentando a alma uns dos outros.  Nas noites de calor, pessoas enchiam a calçada de riso, enquanto outras se deleitavam com os acordes que soavam lá dentro. “Nós” ziguezagueávamos feitas loucas para atender a contento. Ao nosso lado grandes parceiros, sempre prontos a ajudar. Algo precisa ser dito. As pessoas que por lá se aquerenciaram, estiveram conosco até o fim, nos momentos gloriosos e nos momentos difíceis. Cuidaram do espaço, inventaram confraria, carteirinhas de confrades foram confeccionadas, projetos mirabolantes foram arquitetados, tudo para que as portas não se fechassem e acordes continuassem ecoando e vozes continuassem levando a história daquele lugar até o coração das pessoas. Uma história real e muito bonita, daquelas que será contada por várias pessoas, e que cada uma contará do seu jeito. Muitas histórias, sobre um só lugar. É, o Minifúndio Cyber Café deu o que falar, e quando fecharam-se as portas, não foram poucas as pessoas que vieram a nós dizer que estavam se sentindo sem chão, sem ter lugar pra ir.  Não foram poucas também, as que se disseram deprimidas, com sensação de perda. Naquela época, estávamos tomadas por praticidades complicadas que nos fizeram abandonar o barco. Não sentíamos a mesma dor que as pessoas sentiam. Sentíamos até, confesso, certo alívio. Hoje, passados pouco mais de três anos, e já esvaziada das coisas negativas que nos fizeram fechar as portas, me permito, sim, lembrar e sentir saudade. Lembrar das coisas boas que aconteceram ali.Lembro sem dor. Lembro com orgulho, de ter feito parte de um lugar que virou história na cidade de Pelotas, que virou história na vida das pessoas, que virou essa história tão bonita que da até vontade de escrever de novo. Obrigada Marcelo, Cristina, Stael e a todas as pessoas que lá viveram suas histórias. Não se pode voltar no tempo. Mas hoje me atrevo a dizer, quem sabe o dia de amanhã?! Boa viagem a todos!



Ana Mascarenhas – 06/03/2011



SOLITUDE SOLIDÃO




Fito Paez canta e me traz alguma inspiração. Mesmo que desordenadas, as palavras vêm, sinto que vêm vindo ainda que lentamente. Sei o que trago em meu coração. Guardo algumas pessoas. Algumas moram ali faz muito tempo. Outras chegaram há pouco e mesmo assim já sinto que moram ali. Algumas saem de vez em quando deixando certa bagunça por onde transitaram. Isso me desassossega. Não me agrada sentir-me bagunçada por dentro. Não há culpas nem culpados. Eu, volta e meia, é que tenho mania de me deixar bagunçar. Nessas horas é precioso despir-se diante do espelho da alma, desfazer os nós, desarrumar as malas. Nada de roupas, nada de maquiagem, nada de bijuterias. Apenas o espelho e a verdade. Olhos fitos na alma, nada de olhos semicerrados. É preciso que seja assim para que se possa ver exatamente onde dói e de onde vem a dor. Fingir que não dói não é prudente, pois certamente doerá mais ao revelar-se. Detectada a dor, é hora de partir para acalmá-la. Só assim será possível curá-la. Nada de disfarces ou máscaras. Quando dói por dentro e fingimos não ver, rapidamente começa a doer por fora e aí às vezes perde-se o controle e as conseqüências são viagens que não tem volta. Nos meus dias, vivo brisas, dias de sol, vendavais, temporais e maremotos e procuro sempre estar atenta às sensações que eles me trazem. Não dissimulo meus sentimentos, nem deixo de ser eu, mesmo que isso não agrade às pessoas. Essa que canta, que chora, que ri, que ousa, que vive, que trepa, que ama, que se engana, que erra, que acerta, que se atrapalha, que se comove, que se fortalece, que se fragiliza, essa sou eu, em busca de mim todos os dias. Nunca sou igual. Tem dias que sou solitude e outros que sou solidão. Na solitude sinto-me em paz, na solidão sinto a dor doer no osso. Ambas me são importantes, desde que não me conforme com nenhuma das duas. Nem paz demais, nem dor demais. Nada de acomodações. Quero sempre ter em mim essa busca constante das minhas compreensões. Quero que coisas continuem pulsando em mim. Quero arriscar-me nesse grande quebra-cabeça que é a vida, na hora de escrever, na hora de cantar, na hora de querer alguém, na hora de estender a mão, na hora de recuar, na hora de dizer não, mas principalmente na hora de aceitar que vezes sou solitude e outras sou solidão. É isso: veio Fito Paez, logo após vieram as palavras e com elas as bagunças carregadas de sentimentos que mexeram com os desassossegos que trouxeram com eles a verdade, e com a verdade a paz de saber quem sou e a certeza de que vivo a vida buscando não me perder das coisas mais simples.



Ana Mascarenhas – 04/03/11

quinta-feira, 3 de março de 2011

VESTÍGIOS



 

Francamente!
Pensei que teus vestígios
Tivessem ficado esquecidos
Nas paredes do lugar
Onde vivemos nossa história!
Que ingenuidade a minha!
Qual não foi minha surpresa
Ao me deparar com teus vestígios
Aqui neste lugar onde não vivemos quase nada
Morando em minhas gavetas
Se alojando nas janelas
Se refrescando em meu chuveiro
Dormindo em minha cama!
É um exercício diário que faço
Tentando desviar de teus vestígios
Brincamos de esconde-esconde por horas
Mas eles sempre ganham a brincadeira!
Mera tentativa vã esta que faço,
Pois teus vestígios estão entranhados em mim
No meu corpo
Na minha alma
No meu querer
E no meu amor,
Amor esse que sopra todos os dias
No meu ouvido e me acalma
Dizendo
Que o dia que esperamos tanto
Não tarda a chegar,
Chegará numa manhã de sol
Em algum inverno
E terá a noite de lua
Mais bonita que meus olhos
Já puderam enxergar!


Ana Mascarenhas – 29/09/2004

Variações sobre o mesmo tema






Sim
Algo há
Algo que transcende, algo que embriaga, algo que não tem fim. O tempo voa quando estamos juntos. Nós também, voamos em silêncio.Não queremos pousar. No nosso voar ultraleve sobrevoamos o mar, que em sua imensidão traduz a infinitude desse nosso arroubo. E nessa viagem entre céus e mares não há turbulências nem icebergs. Nossa pista de pouso ou cais despontam diante de nós sempre quando estamos distantes e neles repousam nossas verdades e uma única certeza que nossas almas insaciáveis, não querem calar, que é a certeza pulsante de que algo há.


Ana Mascarenhas – 03/03/2011  

terça-feira, 1 de março de 2011

CHEGASTE




Calma e inesperadamente, tem algo em tí que me agrada.Algo como teu olho que passa de raspão pelo meu e uma sucessiva enxurrada de afinidades, que no mínimo me fazem ficar rindo um pouco por dentro. Vieste sem saber que vinhas e chegaste sem saber ter chegado, pra me ajudar exatamente na hora em que eu precisava mudar o foco. Chegaste apenas pra alegrar meus olhos, e isso ja me é muito. Chegaste e nem sabes, pra que eu fizesse as pazes com meu espelho e pra que eu mudasse a cor do batom. Chegaste e nem me vês, mas não importa. Um dia qualquer em frente ao mar quero te contar que chegaste, e se ainda estiveres por aqui, quem sabe as ondas do nosso olhar, não nos levam para conhecer lugares que juntos, ainda não conhecemos.

Ana Mascarenhas - 28/09/07

O rio, o mar e eu




Queria ter força pra mudar o rumo das coisas dentro de mim. Queria que essas coisas navegassem em mim de forma tranquila, assim como o curso de um rio. Mas sinto que as coisas em mim navegam em mar aberto, e eu ja disse certa feita que tenho medo do mar. Do rio eu não tenho medo, porque posso enxergar do outro lado, eu sei onde o rio acaba, mas é o mar que me puxa, é o mar que me instiga,é o mar que me leva. E como me encanta esse mar que eu desconheço.E o desconhecido me assusta e me fascina ao mesmo tempo. Queria sim que as coisas em mim navegassem simplesmente, rio acima ou rio abaixo, mas é em mar revolto que elas me navegam, dependendo sempre dos ventos e da maré pra definir em que areias essas coisas vão descansar.

Ana Mascarenhas - 18/09/2007

Cabra-cega

 
 
Sigo só pelas alamedas do tempo. O medo da solidão me ronda, mas dou as costas a ele e finjo que não vejo que ele me cobiça. O medo da solidão me quer em casa, embaixo das cobertas num domingo de sol. Mas não me submeto a ele, e saio, escolho um banco na praça, um que tenha sol e sento para escrever, ajo, como se ele não existisse.Ele, parecendo resignado vai embora, mas em seguida volta disfarçado, querendo me comer pelas beiradas.Eu, logo o reconheço e finjo que aceito entrar no jogo. Ele me convida pra brincar de esconde-esconde e eu vou, me escondo em meio às poucas árvores que ainda restam na praça e ele me acha.Não quero mais brincar, mas ele insiste, então dessa vez me escondo entre as pessoas prá tentar confundi-lo, mas ele é esperto e me acha outra vez. Então deixo que ele pense que me venceu, e enquanto ele fica todo envaidecido comemorando sua vitória, consigo distrai-lo e sem que ele perceba acabo vendando os olhos do medo. Ele, sem entender o que se passa, pergunta assustado, o que é isso nos meus olhos? Não consigo enxergar nada!! Eu, toda orgulhosa de ter passado a perna no medo, respondo, não é nada não, apenas decidi mudar a brincadeira! Agora estamos brincando de cabra-cega! E assim sigo, só pelas alamedas do tempo e digo bem sim senhora pro medo, vem me pegar agora, vem!

Ana Mascarenhas - 07/11/2007

SALVE, JANAÍNA JORGE!

DE SALTO ALTO

Não sei bem em que dia, o nosso amor resolveu subir no salto, e assim de salto alto  foi achando que era o dono do mundo, que podia ofuscar a rotina, que como era todo poderoso, podia passar a perna no dia-a dia. Não sei bem em que dia, o nosso amor resolveu subir no salto, e assim de salto alto foi pensando que era o dono do pedaço, que podia tapear as paixões, que como era o rei da cocada preta, podia passar a perna nos desencontros. Não sei bem em que dia, o nosso amor resolveu subir no salto, e assim de salto alto, foi passando de patrola por cima das diferenças, esquecendo de regar as plantas, e de trazer flores na sexta-feira. Coitado do nosso amor, ficou tão em cima do salto, que não deixou mais bilhetes, não acendeu velas e sequer lembrou de variar a fragrância dos incensos. O nosso amor ainda em cima do salto, não se importou em abrir as janelas e arejar os sentimentos, deixando presa a brisa do riso, amando assim em fragmentos. E foi assim que o nosso amor andou nos últimos tempos, de salto alto, se achando bárbaro, soberano, imune a tudo, porque afinal de contas, era o nosso amor! O melhor, o mais verdadeiro, o mais duradouro, o que resiste a tudo e a todos! Só que o nosso amor, esse, o pai de todos, esqueceu de um pequeno detalhe, que de vez em quando pra que o amor ande melhor, e por caminhos que são permeados pelo rumo da certeza, é preciso descer do salto e andar de havaianas, ou até mesmo de pés descalços.

Ana Mascarenhas - 08/03/2004

Filho



São duas sementes, uma nasceu da palavra, a outra nasceu do ventre. A que nasceu da palavra versa sobre o amor, a que nasceu do ventre é o amor. A que nasceu da palavra quase sempre fala por mim, a que nasceu do ventre traz movimento pra minha palavra. A que nasceu do ventre tem o dom de me levar da raiva ao encantamento numa fração de segundo. Esse filho que nasceu de mim, é tempestade, é ventania, e quando me apronto pro furacão, me surpreende em calmaria. Esse filho é meu pedaço, é meu prumo, é minha rima, muitas vezes é meu tormento, mas numa fração de segundo volta a ser meu rei. A flor que nasceu da palavra tem a intenção de construir pontes entre aquilo que sinto e o coração das pessoas, e é essa mesma ponte que todos os dias me leva por vários caminhos ao coração do meu rei, pra mostrar a ele que os muros que ele constrói não levam a lugar nenhum, e que por mais que ele os construa, meu amor por ele vai sempre derrubá-los. E é com muito amor que quero dizer a esse rei que desejo que ele aprenda a enxergar as tantas pontes que o cercam, e que perceba que são essas pontes que podem levá-lo pra conhecer o lado azul da vida! Filho, quero que saibas que tenho consciência de que também devo ter construído meus muros, mas cada vez que te olho, mais vontade sinto de te dar a mão, derrubar os muros e atravessar as pontes.

Ana Mascarenhas - Novembro /2009