sábado, 5 de março de 2011

LATIFÚNDIO CULTURAL



Preciso ter cuidado ao falar deste lugar. Não quero cair num saudosismo barato, mas ao remexer em caixas, CDs, e cartazes, coisas foram voltando a minha memória como se ainda ontem estivéssemos lá. Todos nós. Lugar pequeno, aconchegante, cheio de calor humano e muitas diversidades culturais.
Aquilo era um nascedouro por si só. De lá nasceram amizades, poesias, musicas, projetos, amores. Ótimo café expresso. Lindos cartazes impressos. Noites memoráveis. Dias intensos. Nos dias e nas noites de frio, nosso fogãozinho a lenha cumpria bem o seu papel. Cada um que ia chegando se encarregava de alimentar o fogo. Nas noites de poesia íamos alimentando a alma uns dos outros.  Nas noites de calor, pessoas enchiam a calçada de riso, enquanto outras se deleitavam com os acordes que soavam lá dentro. “Nós” ziguezagueávamos feitas loucas para atender a contento. Ao nosso lado grandes parceiros, sempre prontos a ajudar. Algo precisa ser dito. As pessoas que por lá se aquerenciaram, estiveram conosco até o fim, nos momentos gloriosos e nos momentos difíceis. Cuidaram do espaço, inventaram confraria, carteirinhas de confrades foram confeccionadas, projetos mirabolantes foram arquitetados, tudo para que as portas não se fechassem e acordes continuassem ecoando e vozes continuassem levando a história daquele lugar até o coração das pessoas. Uma história real e muito bonita, daquelas que será contada por várias pessoas, e que cada uma contará do seu jeito. Muitas histórias, sobre um só lugar. É, o Minifúndio Cyber Café deu o que falar, e quando fecharam-se as portas, não foram poucas as pessoas que vieram a nós dizer que estavam se sentindo sem chão, sem ter lugar pra ir.  Não foram poucas também, as que se disseram deprimidas, com sensação de perda. Naquela época, estávamos tomadas por praticidades complicadas que nos fizeram abandonar o barco. Não sentíamos a mesma dor que as pessoas sentiam. Sentíamos até, confesso, certo alívio. Hoje, passados pouco mais de três anos, e já esvaziada das coisas negativas que nos fizeram fechar as portas, me permito, sim, lembrar e sentir saudade. Lembrar das coisas boas que aconteceram ali.Lembro sem dor. Lembro com orgulho, de ter feito parte de um lugar que virou história na cidade de Pelotas, que virou história na vida das pessoas, que virou essa história tão bonita que da até vontade de escrever de novo. Obrigada Marcelo, Cristina, Stael e a todas as pessoas que lá viveram suas histórias. Não se pode voltar no tempo. Mas hoje me atrevo a dizer, quem sabe o dia de amanhã?! Boa viagem a todos!



Ana Mascarenhas – 06/03/2011



Um comentário:

  1. Ah Minifúndio, quanta saudade! Minifúndio Cyber Café - latifúndio cultural - feliz imagem, dentre tantas imagens felizes que encontro em tuas palavras. Lembranças que me fazem feliz e que revivo intensamente, com um sorriso, em solitude.

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