ANSIEDADE
Depois de um tempo sem dormir
comigo ele acordou ao meu lado, olhou fixamente nos meus olhos, me abraçou
ternamente e disse, relaxa “baby”, eu te amo...Pra muitos(as) um filho da puta
de plantão, pra mim, o homem que eu amo. Juro por todos os santos e orixás, que
quis relaxar, pois afinal eu sentia que ele falava a verdade, como sempre havia
feito, aliás. Mas meus pés e mãos
formigavam de ansiedade e meu peito parecia querer explodir de tanta pressão.
Minha razão estava paralisada e minha emoção galopava loucamente por entre
todos os meus poros. Via minha fecundidade indo embora com a chegada discreta
da menopausa. A sensação era de claustrofobia, eu precisava de ar, eu precisava
de amor, eu precisava dele. Naquele dia eu era egoísta, possessiva, insegura,
dependente. Naquele dia não conseguia mais compreender o quanto era livre o
nosso amor. Naquele dia tinha simplesmente medo de perdê-lo. De vê-lo ir embora
sem olhar pra trás. Naquele dia eu só enxergava abismos, ralos, bueiros. Tudo
parecia querer escoar o nosso amor. O navio parecia naufragar, o mar estava
revolto e eu absolutamente sem força para navegar. Pensei em desistir,
abandonar o barco, quando algo em mim se acendeu levemente, uma fagulha, um
lampejo, sei lá, um desejo que me mostrava o tanto que deixaria pra trás. Um
cheiro, uma história, um rastro de uma verdade construída lentamente. Um
caminho trilhado por nossas almas afins. Um jeito todo nosso de encaixar nossas
pernas e encharcar nossas vontades. Um amor sem teias, sem máscaras, sem
mentiras. Um amor desacorrentado, sem hipocrisia. Um amor terno, um amor
ardente. Um amor diferente, rascante, um amor possível. Um amor que às vezes corta,
mas que da dor se refaz e de novo se encharca e floresce. Feito uma flor
enfeitando uma navalha ou uma palavra que cala e fica por um fio.
Mas o que é o amor afinal, senão
um trem descarrilado cruzando as pontes da alma, desviando dos precipícios,
devassando as fronteiras da razão e parando sem hora certa pra partir na
estação das emoções que me embalam, me despedaçam e me ensinam cada dia a viver
este amor que não aprisiona, este amor
que não faz da modorra a sua casa, este amor que liberta. Amor sem egoísmo, amor
pelo amor, amor com respeito, com verdade, com cumplicidade, amor com alma, com
dentes, com desejo, amor desmedido, que entontece, que habita, amor que voa
alto, amor que navega e que mergulha fundo, amor que chove e que nunca seca.
Amor que respira, amor que sua, amor que sangra, amor que revira, amor que
transborda, amor que ensina. Amor que vomita, amor que cospe, amor que goza,
amor que transcende, amor que não mente. Amor sem obrigação, amor sem hora
certa, amor a qualquer hora, amor por amor, amor por amar, amor por prazer,
amor sem mandamentos, sem clausuras, amor sentido, amor sacramentado, amor
perene, amor que está em mim, amor que está em ti, e assim sendo, porque não?
Ana Mascarenhas – 02/10/2013