sábado, 26 de outubro de 2013

MEUS MEDOS E RENDAS VERTENDO DO ESPELHO

Quando paro diante do espelho
Não sou eu quem me vejo
O espelho é quem me vê
E mostra tudo aquilo que sou
Emoções que refletem a alma
A realidade sulcando a pele
Fazendo verter de mim
Rugidos de tempestade
Ou nuances de por do sol
O espelho é o único que conhece
Todas as minhas dobras
Todas as minhas arestas
Todos os meus vincos
O espelho não encobre nada de mim
O espelho quando me vê revela
A delicadeza das rendas tocando meus medos
Rendas que desvelam meus desassossegos mais escondidos
Aqueles que nem eu mesma sei
 Em que vãos de mim se escondem

Ana Mascarenhas – 26/10/2013










domingo, 20 de outubro de 2013

AMOR SEM AMARRAS
Lá vem a vida
Zombando de mim outra vez
Me fazendo viver
O que nunca pensei
Me fazendo querer o que nunca quis
Amor sem amarras
O vento me leva ao teu encontro
O nosso amor me chama
Pra navegar mar adentro
Sem destino
Mesmo sem saber o que ainda resta de nós dois
Enquanto a lua sorri dizendo sim
Eu sigo divagando no teu amor
Num devaneio feliz
De vulcões no peito
E pássaros na alma
Um desejo imensurável de ficar
Ainda que meus medos digam não
Aceito meus medos
Eles fazem parte de mim
E ao aceitá-los
Eles vão desvanecendo
E acalmando
O deserto que às vezes mora em mim

Ana Mascarenhas – 20/10/2013




















domingo, 13 de outubro de 2013

QUERO VOAR
 Abro os olhos lentamente
E sinto aos poucos a energia se infiltrando
No meu corpo
Em todos os meus poros
 E na minha alma
O dia está cinza lá fora
Mas aqui por dentro
Alguns sentimentos
 Vão sendo pincelados de cor
Sinto a leveza querendo se acomodar em mim
Sinto uma brisa suave invadir a casa quando abro a janela
Ouço a algaravia dos pássaros da minha rua
E sinto como se me dissessem
Vem, vem voar
Sim, quero voar
Quero voar sem medo
Quero me entregar inteiramente
Quero voar sobre o mar
Sobre a cidade
Sobre a vida que me espera lá fora
Quero voar sobre os meus desertos
Quero voar “sobre” os meus abismos
Quero saber voar quando estiver só
E também quero voar contigo
Quero rasantes
Quero mergulhos
Quero pousos ao entardecer
Quero voar enquanto canto
Quero voar em silêncio
Quero voar sobre a maresia
Quero voar antes que a noite caia
Quero voar antes que o dia acorde
Quero voar
Quero ir
Quero alçar vôo
Pousar no cais
E voar outra vez
Antes que a vida passe

Ana Mascarenhas – 13/10/2013







sábado, 12 de outubro de 2013

CENTELHA

Eram quatro e trinta e cinco da manhã quando acordei
Sem sobressaltos
Nem pressentimentos
Nem pesadelos
Na TV passava algo que eu não lembro o que era
Sentei na cama e fiquei ali por um tempo
Em mim um vazio
Uma apatia
Um nada
Um não sentir
Ainda assim
Lembro que algo me raspava o peito
E dentro do contexto de estar fora do ar
Isto era de certa forma um bom sinal
Era uma centelha
Uma fagulha
De que eu ainda sentia algo
Mesmo que fosse
O raspar
Que ainda dói agora

Ana Mascarenhas – 12/10/2013

PRUMO

Um rio fora do leito
Um trem fora do trilho
Um eu fora do rumo
E o prumo
Cadê?

Ana Mascarenhas – 11/10/2013

quarta-feira, 2 de outubro de 2013


ANSIEDADE

Depois de um tempo sem dormir comigo ele acordou ao meu lado, olhou fixamente nos meus olhos, me abraçou ternamente e disse, relaxa “baby”, eu te amo...Pra muitos(as) um filho da puta de plantão, pra mim, o homem que eu amo. Juro por todos os santos e orixás, que quis relaxar, pois afinal eu sentia que ele falava a verdade, como sempre havia feito, aliás.  Mas meus pés e mãos formigavam de ansiedade e meu peito parecia querer explodir de tanta pressão. Minha razão estava paralisada e minha emoção galopava loucamente por entre todos os meus poros. Via minha fecundidade indo embora com a chegada discreta da menopausa. A sensação era de claustrofobia, eu precisava de ar, eu precisava de amor, eu precisava dele. Naquele dia eu era egoísta, possessiva, insegura, dependente. Naquele dia não conseguia mais compreender o quanto era livre o nosso amor. Naquele dia tinha simplesmente medo de perdê-lo. De vê-lo ir embora sem olhar pra trás. Naquele dia eu só enxergava abismos, ralos, bueiros. Tudo parecia querer escoar o nosso amor. O navio parecia naufragar, o mar estava revolto e eu absolutamente sem força para navegar. Pensei em desistir, abandonar o barco, quando algo em mim se acendeu levemente, uma fagulha, um lampejo, sei lá, um desejo que me mostrava o tanto que deixaria pra trás. Um cheiro, uma história, um rastro de uma verdade construída lentamente. Um caminho trilhado por nossas almas afins. Um jeito todo nosso de encaixar nossas pernas e encharcar nossas vontades. Um amor sem teias, sem máscaras, sem mentiras. Um amor desacorrentado, sem hipocrisia. Um amor terno, um amor ardente. Um amor diferente, rascante, um amor possível. Um amor que às vezes corta, mas que da dor se refaz e de novo se encharca e floresce. Feito uma flor enfeitando uma navalha ou uma palavra que cala e fica por um fio.
Mas o que é o amor afinal, senão um trem descarrilado cruzando as pontes da alma, desviando dos precipícios, devassando as fronteiras da razão e parando sem hora certa pra partir na estação das emoções que me embalam, me despedaçam e me ensinam cada dia a viver este  amor que não aprisiona, este amor que não faz da modorra a sua casa, este amor que liberta. Amor sem egoísmo, amor pelo amor, amor com respeito, com verdade, com cumplicidade, amor com alma, com dentes, com desejo, amor desmedido, que entontece, que habita, amor que voa alto, amor que navega e que mergulha fundo, amor que chove e que nunca seca. Amor que respira, amor que sua, amor que sangra, amor que revira, amor que transborda, amor que ensina. Amor que vomita, amor que cospe, amor que goza, amor que transcende, amor que não mente. Amor sem obrigação, amor sem hora certa, amor a qualquer hora, amor por amor, amor por amar, amor por prazer, amor sem mandamentos, sem clausuras, amor sentido, amor sacramentado, amor perene, amor que está em mim, amor que está em ti, e assim sendo, porque não?

Ana Mascarenhas – 02/10/2013


Benditas sejam as coisas verdadeiras...
Benditas sejam as coisas simples...
Benditas sejam todas as coisas que ainda se possa aprender...


terça-feira, 1 de outubro de 2013


Aceitando a bela sugestão do FIO DA NAVALHA, aí está esta preciosidade que é Milton Nascimento cantando TUDO QUE VOCÊ PODIA SER....do Álbum CLUBE DA ESQUINA
Composição de Lô Borges e Márcio Borges
Apreciem sem moderação!!