domingo, 13 de março de 2011


ÁGUAS DE MARÇO


Em meio a tantas coisas que estão acontecendo, não consigo escrever. Minha cabeça está cheia de palavras, mas elas estão desconectadas. Escrevo, apago, desisto, volto, tento mais uma vez, deixo as palavras arrefecerem dentro de mim enquanto as águas de março vão solapando cidades, casas, vidas. Talvez não consiga dizer nada, porque qualquer coisa que diga soará como um sussurro diante de tanta destruição. Por enquanto fico em silêncio, apenas lembrando o tempo em que se tomava banho de chuva e depois voltava pra casa pra tomar banho de chuveiro e um chá quente pra não se gripar. Fico lembrando o tempo, em que precisávamos tomar cuidado com o mar, apenas se estivéssemos dentro dele. Hoje, pra muitas pessoas, não há mais casa pra voltar depois do banho de chuva e o mar virou um grande inimigo. Alguém pode dizer ou fazer alguma coisa? Existe aí no seu computador algum botão que possa ser desligado? Não tenho respostas nem certezas, nem sei se algo ainda pode ser feito.
Na minha cabeça as palavras continuam desconexas e resta apenas uma imagem que não consigo apagar. A mão do homem. Não sei o que dizer. Por hora, é melhor calar.



Ana Mascarenhas – 12/03/2011

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