terça-feira, 1 de março de 2011

Cabra-cega

 
 
Sigo só pelas alamedas do tempo. O medo da solidão me ronda, mas dou as costas a ele e finjo que não vejo que ele me cobiça. O medo da solidão me quer em casa, embaixo das cobertas num domingo de sol. Mas não me submeto a ele, e saio, escolho um banco na praça, um que tenha sol e sento para escrever, ajo, como se ele não existisse.Ele, parecendo resignado vai embora, mas em seguida volta disfarçado, querendo me comer pelas beiradas.Eu, logo o reconheço e finjo que aceito entrar no jogo. Ele me convida pra brincar de esconde-esconde e eu vou, me escondo em meio às poucas árvores que ainda restam na praça e ele me acha.Não quero mais brincar, mas ele insiste, então dessa vez me escondo entre as pessoas prá tentar confundi-lo, mas ele é esperto e me acha outra vez. Então deixo que ele pense que me venceu, e enquanto ele fica todo envaidecido comemorando sua vitória, consigo distrai-lo e sem que ele perceba acabo vendando os olhos do medo. Ele, sem entender o que se passa, pergunta assustado, o que é isso nos meus olhos? Não consigo enxergar nada!! Eu, toda orgulhosa de ter passado a perna no medo, respondo, não é nada não, apenas decidi mudar a brincadeira! Agora estamos brincando de cabra-cega! E assim sigo, só pelas alamedas do tempo e digo bem sim senhora pro medo, vem me pegar agora, vem!

Ana Mascarenhas - 07/11/2007

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