segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

COBIÇA


 
Estás aí? Não te vi chegar. Quando percebi ja estavas entranhado em mim, e eu ingênua e louca, me rendi as tuas palavras, me envolvi nos teus braços, me enredei na tua teia, viajei com teu perfume. Por hora não sei o que faço. Sinto raiva e encantamento, sinto um vazio que me entontece. Fecho os olhos, adormeço e num instante acordo em sobressalto. Me dou conta que nem por um segundo tua alma esteve comigo. Foi só cobiça por um corpo vestido que ainda não conhecias. Minha alma despida passou por tí sem que sequer a  notasses. Por onde andam agora teus desejos que até outro dia dizias tão intensos? Se esvaíram tão imediatamente após teus olhos perceberem que não estavam diante de um corpo, digamos, tão desejável assim? Sinto por teus olhos que não tiveram tempo de desejar-me por dentro. Sinto por meus olhos que desejaram-te primeiro por dentro e que não tiveram tempo de desejar-te por fora. Sinto por mim, sinto por tí, sinto por nós que nos enganamos e jogamos fora a leveza que tínhamos e que quem sabe , poderia até ter se tornado algo bem maior do que algumas noites de taças que se esvaziam, de corpos que não se acham e de almas que não se deixam enxergar escondidas por trás da fumaça de nossos incalculáveis cigarros.


Ana Mascarenhas- Outono de 2010

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O PÁSSARO E O TIGRE

O PÁSSARO E O TIGRE
25/01/11     ANA MASCARENHAS


ATÉ OUTRO DIA MESMO, EU ERA UMA PESSOA CHEIA DE MEDOS, INSEGURANÇAS, POSSESSIVIDADES. QUIS MOLDAR AS PESSOAS QUE SE RELACIONARAM COMIGO DE FORMA MAIS ÍNTIMA PORQUE TINHA MEDO DE PERDÊ-LAS, E NÃO ME DAVA CONTA QUE QUANTO MAIS TENTAVA AMARRÁ-LAS,MAIS AS PERDIA. FOI ASSIM COM MEU MAIOR AMOR, E ATÉ ESSE MOMENTO, CREIO QUE POSSO DIZER, MEU ÚNICO AMOR. AMOR QUE ME FEZ CANTAR E POETIZAR A VIDA, MAS QUE MEUS ANSEIOS EM DEMASIA, TIRARAM DE MIM. POIS BEM, NUNCA É TARDE PARA SOLTAR AS AMARRAS, NUNCA É TARDE PARA REPARAR OS ERROS, NUNCA É TARDE PARA APRENDER A VOAR. CONHECI MAIS DE PERTO ALGUÉM QUE DIZ QUE A VIDA DEVE SER SEMPRE UMA GRANDE SURPRESA, QUE DEVEMOS VIVER UM DIA DE CADA VEZ, QUE DEVEMOS VIVER COM INTENSIDADE O HOJE. NÃO NOS FAZ BEM VIVER APEGADOS AO ONTEM, E NEM MESMO CRIAR EXPECTATIVAS SOBRE O AMANHÃ.PORQUE DE FATO, A VIDA É UMA GRANDE SURPRESA, TODOS OS DIAS. AS PESSOAS NÃO SÃO IGUAIS TODOS OS DIAS, E PRA MINHA SURPRESA PERCEBI QUE EU TAMBÉM NÃO SOU IGUAL TODOS OS DIAS, E SE NÃO SOU, COMO QUERER QUE AS OUTRAS PESSOAS SEJAM. E POSSO DIZER MAIS, A SURPRESA É EXCITANTE, É UM DESAFIO QUE ME  INSTIGA E PROVOCA DIA APÓS DIA. HOJE, NESSA RELAÇÃO DE GENTE GRANDE QUE VIVO, ME SURPREENDO  TODA HORA E RIO SOZINHA QUANDO ME PEGO PENSANDO QUE NÃO O QUERO AMARRADO A MIM.EU O QUERO SIM, MAS O QUERO LIVRE E AO MEU LADO QUANDO TIVER VONTADE. NÃO QUERO AO MEU LADO ALGUÉM QUE SÓ ESTÁ ALI PORQUE AS COISAS POSTAS DIZEM QUE PESSOAS QUE SE QUEREM, TEM QUE  QUE ESTAR JUNTAS TODOS OS DIAS, TODAS AS HORAS...APRENDI NOS ÚLTIMOS MESES, QUE NÃO ...SENTI NA PELE, E NAS BATIDAS DO MEU CORAÇÃO QUE TUDO ESTÁ DIRETAMENTE LIGADO A LIBERDADE DE IR E VIR... NÃO QUEIRA PRENDER UM PÁSSARO NUMA GAIOLA...NEM UM TIGRE NUMA JAULA...O CANTO DO PÁSSARO É TRISTE QUANDO ELE ESTÁ PRESO E O TIGRE, BEM, O TIGRE QUE VIVE PRESO MAIS DIA,MENOS DIA SE SOLTA, E QUANDO SE SOLTA ATACA, E NUNCA MAIS VOLTA. QUERO DIZER COM TUDO ISSO, QUE APRENDI A VIVER O HOJE, E VIVO COM GRANDE INTENSIDADE, ME ENTREGO DE CORPO E ALMA NESSE BAILAR SURPREENDENTE. NÃO SINTO MAIS DOR AO PENSAR COMO SERÁ O DIA DE AMANHÃ, PORQUE SIMPLESMENTE NÃO PENSO EM COMO ELE SERÁ. DEIXO APENAS QUE ELE CHEGUE E ME SURPREENDA, QUE ME FAÇA RIR OU CHORAR, QUE ME BRINDE COM TEMPESTADES E POR DO SOL NUM MESMO ENTARDECER, QUE ME ENVOLVA COM RESPIRAÇÕES E SILÊNCIOS ENTERNECEDORES , QUE ATÉ ME CAUSE DÚVIDAS, MAS QUE EU SEJA CAPAZ DE DISSIPÁ-LAS PRA PODER SEGUIR EM FRENTE SABENDO SEMPRE, VIVER UM DIA DE CADA VEZ.


 

NADA DEMAIS

NADA DEMAIS/ ANA MASCARENHAS/ 07/02/11


SINTO UMA SAUDADE LEVE
UMA VONTADE QUE ME MOVE
UM QUERER QUE ME TENTA
MAS NADA DO QUE SINTO, SINTO DEMAIS
VISTO QUE DEMAIS É ALÉM DA CONTA
DEMAIS PASSA DA MEDIDA QUE PERMEIA A BRISA
O DEMAIS, LEVA EMBORA TUDO DE BOM QUE A BRISA SOPRA
O DEMAIS SUFOCA, APRISIONA
POR ISSO NÃO QUERO NADA DEMAIS
ME BASTA UM ABRAÇO, A VERDADE
E ALGUMA SABEDORIA
PRA SABER VIVER
SEM QUERER NADA DEMAIS

CRISÂNTEMOS AZUIS, E FIM



Sim, hoje penso que talvez devêssemos realmente ter selado o fim da nossa história no dia dos crisântemos azuis. Acontece que ao vê-los na tua mão, tão bonitos e tão azuis, não conseguia me remeter ao fim. Só conseguia enxergar ali, uma possibilidade de recomeço. Uma vontade de ser tua água e de que fosses meu vinho, e de que nos bebêssemos pela vida a fora de mãos dadas e pés descalços, alguns dias rindo e outros chorando por causa da impermanência das coisas que nos movem. Vendei os olhos e quis sim, continuar navegando nesse mar de amor que nos envolve, sem querer perceber que o ciclo do começo do nosso fim, já nos espreitava há muito tempo. Agora, com uma grande ausência de tí, mas serenamente lucida e reconhecendo todas as dependências e amarras que nos prendem a esse amor que queríamos eterno, nos vejo livres pra trilhar outros caminhos que a vida nos reserva, respeitando todos os signos que fizeram e certamente ainda farão por muito tempo parte desse amor tão verdadeiro que une nossas almas e que se traduz em poesia e canção, se reflete em luas, se mistura a aromas e trilhas musicais que marcaram esses dez anos de vida em comum. E mesmo triste, mas compreendendo as razões que nos separam, te ofereço não só crisântemos azuis, te ofereço flores do campo, margaridas, girassóis, rosas brancas e amarelas, lírios da paz e mais todas as flores que meus braços sejam capazaes de carregar. Te ofereço todas as noites de lua e todos os dias ensolarados pra aquecer um pouco o frio interno que essa ausência causa. Te ofereço meu amor de longe, meu amor sem vigias, meu amor liberto, meu amor incondicional. Me afasto de tí pra te ver rir, pra te ver dançar. E me afasto com a sensação de ter aprendido que flores não selam só começos, elas podem também selar fins e por mais que me doa não te ter, é bem melhor assim, um fim com ternura e crisântemos azuis.
Vai em paz que eu fico em paz...e se por acaso um dia resolveres voltar, não te surpreende ao encontrar a porta aberta e sobre a mesa, um copo d'água, uma boa garrafa de vinho e um vaso cheio de crisântemos azuis.

Ana Mascarenhas - 09/08/07

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

ASAS

Espero ouvir em breve o barulho de tuas asas se preparando pra pousar nos arredores do meu sossego. Vem, pousa em mim e depois aninha-te em todos os meus cantos. E quando for a hora, voa rumo ao céu de teus tantos quereres. Vai e volta tantas vezes quanto tuas asas quiserem voar. Em meus cantos não há gaiolas nem cativeiros. Em meus cantos há apenas o infinito momento em que estamos juntos.


Ana Mascarenhas - Algum dia do início de janeiro de 2011

VÃOS

   
Tua poesia foi escrita em mim e está mais uma vez impressa por entre todos os meus vãos. Sinto como se as palavras, os olhares e as levezas tivessem se infiltrado por dentro de mim e tomassem conta dos abismos que me habitam. Os meus vãos, estão tomados da tua poesia bruta, e os meus abismos, tomados pela sensação plena do efeito do teu olhar. Nas minhas veias, não corre mais ansiedade, angústia ou medo. Nas minhas veias corre desejo de navegar ora nas tuas águas de rio tranquilo, e outras no teu mar de águas profundas e revoltas, enfrentando com bravura, o desafio inquietante de não me deixar naufragar no mar aberto de tuas ausências. Minha garganta seca, minha boca cala, enquanto me sinto flutuar nas ondas do silêncio.É quando percebo, que tudo está na leveza de nossas asas e na sabedoria de querer aprender a voar.


Ana Mascarenhas - 27/12/10

LEVEZA

Me agrada o rumo leve por onde anda trilhando meu pensamento, é uma trilha de vontades saciadas pela alma, um olhar, um rio, um pulsar diferente. É um caminho repleto de surpresas, a cada toque, a cada passo, a cada gargalhada, ta tudo aí, pairando no ar. O que parecia intocável habita agora as batidas do meu coração, percorre minhas entranhas, e tudo entorna em leveza. O que parecia intocável, ainda que de longe e em silêncio, sopra delicadezas em meus ouvidos, assim como uma brisa que inesperadamente refresca uma tarde num dia de calor. O que parecia intocável, ainda que de longe, provoca meus sentidos, e estes que por sua vez pareciam adormecidos se descobrem incandescentes. Me agrada a sensação de perceber que ainda que sutilmente, consegui "tocar" o que parecia intocável. Vi emoção nos olhos dele, senti verdade em suas palavras, fomos cúmplices de momentos raros, onde nada precisava ser dito. A magia dizia tudo. Olhos, bocas, almas, cheiros e mãos. Tudo ali, exposto, tudo vivo, tudo pulsando perceptivelmente, entre o que parecia ser intocável e eu.

Ana Mascarenhas - 25/10/10

VESTIDO VERMELHO

   
Faz tempo que algo nele me chama atenção. Olhares silenciosos, sorrisos compactuados, em off. Algo entre o servir a mesa e o pagar a conta, sempre o mesmo pedido, nem sempre a mesma companhia. Um homem que vai e vem, soberano como o tigre e que por certo deixa rastros, rastros de mistério que a cada café, me instigava mais e mais. Sabia que ainda não era a hora, mas algo latente me dizia que mais cedo ou mais tarde desvendaria alguns de seus mistérios. Passa o tempo, fecham-se as portas, tudo desaparece, o homem, os mistérios, o aroma do café. A vida segue e tempos depois ele reaparece. Outro cenário, outro tipo de café, outro momento. Nos falamos casualmente por meses, ele continuava indo e vindo sem nenhuma regularidade. Mais vestígios, outros mistérios e uma tranquilidade envolvente que me sussurra no ouvido que o dia do por do sol sobre a ponte, está prestes a chegar, e eis que chega, sem alarde. O dia amanheceu cinzento, mas não importa, fez sol em nossas vontades e lá estávamos nós, sobre a ponte, na companhia do velho Bukowski, aquecidos pelo sabor de nossas palavras, aconchegados na plenitude do silêncio, poetando sobre a leveza do navio e contemplando o sol que ia se pondo devagar. Uma revoada de pássaros, mais silêncio e a noite cai. É hora de ir e vamos embora. O gosto que fica é o de quero mais, e nós dois queremos o gosto de nossos gostos e a leveza de nosso navio incandescente que navega tranquilo singrando o desconhecido.
Ao chegar em casa, me sinto em paz, e sorrindo não posso deixar de pensar: E ele, ainda nem conhece meu vestido vermelho.

Ana Mascarenhas - 18/08/10

Coisas que calam

Pra mim pouco importa onde estás agora,
Se em trânsito, em transe, em marte, ou mergulhado num bom copo de rum, ou ainda se estás entre as pernas de alguma das tuas adoradas putas. Pra mim pouco importa o nome daquilo que temos
E importa menos ainda o que dizem as pessoas que vivem presas a conceitos postos. Pra mim não importa quantas bocas beijaste ou quantas ainda beijarás no mesmo dia em que beijas a minha boca.Não importa o que fazes durante o trajeto que te traz a mim. Pra mim só importa que existe o dia em que chegas e que trazes contigo aquele silêncio que só nossas almas vestem, aquele silêncio que antecede o todo e inunda nossos quereres. Pra mim só importa que existam as coisas que respiram e calam e ainda que caladas, se retorcem em nossos corações e depois se despem em forma de desejos, fomes e sedes. Pra mim importa sim, o gosto cúmplice de nossas verdades e a descoberta sedenta de nossos outros gostos que vamos provando pouco a pouco, devagar e profundamente. Pra mim apenas importa saber que vamos mar a dentro e que ir mar a dentro, significa que o que vivemos é infinito, mesmo que esse infinito seja vivido num único instante.

Ana Mascarenhas   11/02/11

Alguns, outros, uns

Uns calam
Outros recuam
Alguns, vão embora
Uns falam
Outros fingem não ver
Alguns disparam
Uns simplesmente são
Outros apertam o passo
Alguns, abraçam
Uns reparam
Outros desenham
Alguns, estão
Uns vem
Outros vão
Alguns, não
Uns sentem
Outros parecem em paz
Alguns, tanto faz

Ana Mascarenhas / Junho/2009

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Poemas

INCÓGNITA

Será que o nosso amor é outro?
Será que o nosso amor é louco?
Como é que o nosso amor passeia
Pelo sim e pelo não meio assim sem avisar?

Será que o nosso amor é água?
Será que o nosso amor é fogo?
Como é que nosso amor vagueia
Pela noite, pelo dia sem saber aonde chegar?

Será que o nosso amor é sol?
Será que o nosso amor é lua?
Como é que o nosso amor flutua pelo espaço
Sem saber como pousar?

Será que o nosso amor é porto?
Será que é um aeroporto?
E a torre de comando avisa
Se é seguro decolar?

Será que o nosso amor é verde?
Será que nosso amor é mato?
E a esperança ta na trilha
Que perdemos, mas buscamos encontrar?

Será que nosso amor é céu?
Será que é um arranha-céu?
Ou é só um elevador trancado
Que precisa de energia pra poder continuar?

Pra mim o nosso amor é isso
Eu acho que ele é tudo isso
E a esperança ta na trilha que perdemos
Mas queremos encontrar
Pra mim o nosso amor é isso
Eu acho que ele é mais que isso
E a resposta ta na energia
Que ainda temos
De querer continuar




Ciclone

Tenho em mim
Quase como se fosse
Uma espécie de ressaca
De palavras que são ditas sem pensar
De palavras que são ditas por dizer
Palavras que envolvem
Palavras que sugerem
Palavras que adoram
Palavras que querem
Palavras que namoram
Mas como são ditas sem sentir
Se tornam apenas palavras que
Se perdem
Então fica o dito pelo não
Dito
E sobram só as palavras que
Ferem
Mas, só um momento! Tenho
Dito!
Quando soprarem no teu ouvido
Palavras desse tipo
Tome tento
E lembre-se
Que palavras até
Se dissipam no vento
Mas que nem o tempo
Apaga
Aquilo que está escrito

 (30/08/2006)