quinta-feira, 28 de abril de 2011

São Gonçalo


As águas do São Gonçalo têm de fato um poder reparador, pelo menos no que se refere a mim. Saí em busca de algo que apaziguasse alguns desassossegos que me atormentam nos últimos dias e fui absolutamente feliz na escolha do lugar.
Sentei-me embaixo da velha figueira, com meu livro, meu chimarrão e alguns cigarros. Não li uma linha sequer. Entre mates e cigarros fiquei completamente absorvida pela energia daquele lugar. Na beira do cais haviam vários barcos atracados e eu. Do outro lado do canal, uma linda garça fazia parte daquela paisagem. Estávamos frente a frente e ainda que separadas pelas águas, nos observávamos. Quando cheguei, ainda havia sol. Aos poucos a tarde foi caindo e o céu foi pincelado com uma tinta vermelho alaranjada que dava a ele um toque ainda mais especial. Acendi um cigarro, caminhei até a ponta de um dos trapiches e deixei meu pensamento navegar pelo fluxo daquelas águas.
Por alguns minutos, minha mente conseguiu esvaziar-se, e naquele momento só existiam as águas, o canto dos pássaros e aqueles rabiscos pincelados no céu. A noite caíra, e a ponte se acendeu. Que linda fica a ponte iluminada! Foi como se em mim, algo também se acendesse, algo que há dias estava apagado. Uma vontade de ir adiante, um lampejo de acreditar, um sopro de paz, sei lá. Foi bom! Do outro lado da figueira há outro trapiche.Vou até lá pra despedir-me e agradecer por tamanha acolhida. Saí como quem sai da casa de um velho amigo, refeita, amparada e sabendo que posso voltar sempre que quiser. E quero sim. Pois é muito bom saber que desde hoje, tenho no São Gonçalo, um refúgio.




Ana Mascarenhas – 28/04/2011

Um comentário:

  1. Que texto bonito, Ana. Me senti em teu lugar. Eu e Carmen costumamos fazer isso. Ela navega em seu silêncio, eu navego no meu... Nossos silêncios se acasalam, misturam-se, filosofam... Voltamos para casa refeitos... Os respectivos silêncios em nosso encalço.

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