segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

COBIÇA


 
Estás aí? Não te vi chegar. Quando percebi ja estavas entranhado em mim, e eu ingênua e louca, me rendi as tuas palavras, me envolvi nos teus braços, me enredei na tua teia, viajei com teu perfume. Por hora não sei o que faço. Sinto raiva e encantamento, sinto um vazio que me entontece. Fecho os olhos, adormeço e num instante acordo em sobressalto. Me dou conta que nem por um segundo tua alma esteve comigo. Foi só cobiça por um corpo vestido que ainda não conhecias. Minha alma despida passou por tí sem que sequer a  notasses. Por onde andam agora teus desejos que até outro dia dizias tão intensos? Se esvaíram tão imediatamente após teus olhos perceberem que não estavam diante de um corpo, digamos, tão desejável assim? Sinto por teus olhos que não tiveram tempo de desejar-me por dentro. Sinto por meus olhos que desejaram-te primeiro por dentro e que não tiveram tempo de desejar-te por fora. Sinto por mim, sinto por tí, sinto por nós que nos enganamos e jogamos fora a leveza que tínhamos e que quem sabe , poderia até ter se tornado algo bem maior do que algumas noites de taças que se esvaziam, de corpos que não se acham e de almas que não se deixam enxergar escondidas por trás da fumaça de nossos incalculáveis cigarros.


Ana Mascarenhas- Outono de 2010

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