domingo, 19 de junho de 2011

AS OUTRAS FACES DO SILÊNCIO





Naquela noite havia um silêncio
Diferente de todos os outros silêncios que já ouvi
Um silêncio absoluto
Ecoando significados que eu ainda não conhecia
Olhares que se tocavam
Respirações que se revelavam
Na rua nada
Nenhum ruído
Aqui dentro
Apenas nós dois
E aquele pulsar
Que antecede o que parecia ser indizível
Teus olhos, duas poças d’água
Tua voz embargada
Como se estivesses recitando algo que te toca a alma
Foi então que teu olhar tocou o meu
E o sagrado rasgou a noite
Quis continuar com meu amor calado
Como se dizê-lo significasse tomar o último gole
E se depois de tudo dito tirassem o ralo do mar
E tudo escoasse ralo abaixo?
E se descessem pelo ralo nossas vontades e levezas?
E se tudo virasse banal, previsível e óbvio?
Até que meu olhar tocou o teu
E senti que nada poderia
Destruir o que ali se construíra
Eu crescera
Tudo crescera
E finalmente maturava em mim
Um sentimento livre, respeitoso, faceiro e raro
Um sentimento que eu cuido de um jeito diferente
Um sentimento leve, sem risco de encarceramento
E que minhas antigas tendências asfixiantes
Desta vez não teriam chance de sufocar
Era algo que chegara sem alarde
Algo que não é mensurado em quantidade
De tempo, palavras ou abraços
O que sinto hoje
É mensurado pela qualidade do silêncio
Pela grandeza de ser aquilo que se é
Pela naturalidade de não querer transformar
O outro naquilo que ele não é
É mensurado pela intensidade da leveza
Pelo calor do braseiro
Pela sintonia da alma
Pela constância do riso
E pela imensidão do mar
Era algo que me chegara
De um jeito diferente
Eu não sentia mais medo
Nada me doía
Eu só queria sentir
E continuar navegando
Enquanto meu coração
Sorria em silêncio




Ana Mascarenhas – 19/06/2011

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