quinta-feira, 19 de maio de 2011

CONDUTA EFERVESCENTE





Agrada-me teu olho de bicho
Teu grito sufocado
Na penumbra
Tuas pernas que prendem as minhas
Teu riso solto pelas minhas coisas
Teus mistérios em meus pedaços
A acidez de teus cheiros
Tuas palavras secas
Teu olhar marejado e terno
Agrada-me tua ternura inconstante
Tua mão firme em mim
Teus mestres em minha casa
As taças sujas de vinho
Que deixam marcas sobre a mesa ao amanhecer
Teus vestígios falam a minha língua
Contam-me segredos
Cantam no meu ouvido
E depois vem morar nos meus olhos
Agrada-me quando me sabes
Esse teu gostar cheio de escracho
Teu emaranhado de surpresas
Tuas outras verves
Gosto das faíscas que chispam dos teus olhos
Quando algo te agrada
E do teu riso torto no canto da boca
Gosto de quando tua gargalhada ecoa
E de todas as tuas outras partes
Gosto de quando me dizes tua
Aqui ou em marte
Gosto que te toque a lua
E que te inquietes com as tempestades
Gosto de quem és
Por que quando me queres
Me queres quem sou
Com minhas águas
Minhas secas
Minha paz
E minhas tormentas
Também te quero quem és
Com tuas ausências
Tuas viagens
Tuas reticências
E todas as tuas coisas
Gosto da tua cor
Do teu corpo quente
E de tudo que de nós dois incandesce
Gosto de navegar colada ao teu corpo
Gosto dos baixos
Médios
Graves
Agudos
E altos que nossas almas entoam
Gosto das mordidas que podem doer no corpo
Porém espero nunca sentir a dor
Das dentadas silenciosas que dilaceram a alma
Gosto das tuas marcas que ficam em mim
E de depois tentar vê-las no espelho
Gosto de estar disponível
De ser permissiva
E de expor tudo isso
E não pretendo mudar minha conduta
Afinal
As velas estão acesas
O fogo estala
E tudo em nós apenas arrefece
E o cheiro de coisas arrefecendo
É um cheiro que me mantém
Com fome
E essa é uma fome que ternamente me agrada






Ana Mascarenhas – 19/05/2011


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