CALÇADAS DE OUTONO
O outono chegara
E com ele eu estava
em boa companhia
A cidade estava
quieta
As folhas das árvores
balançavam lentamente numa dança silenciosa
Sobre a calçada
apenas uma cadeira
E algumas folhas
secas trazidas pelo vento
Sobre o degrau da
porta
Um copo de cerveja
Um maço de cigarros
E em mim uma sensação
recorrente de vazio
Eu me sentia vazia
como a noite da minha rua
Vez ou outra
Um carro que passava
Interrompia meu
devaneio solitário
Me trazendo de volta
Daquela viagem sem
passageiros
Na sala, o rádio
estava ligado
As luzes estavam
acesas
Mas em mim quase tudo
se apagara
Acendo um incenso e
mais um cigarro
Mais uma cerveja
talvez
Pra amortecer os
sentidos
Os sentimentos
Os medos e os desejos
Que insistem em
pulsar
Rompendo o meu
deserto na calçada
Não quero sentir nada
Não hoje
Não agora
Não neste momento
Onde tudo parece tão
insano
Não neste instante
onde em mim tudo parece doer
Meu corpo deformado
pelo tempo
Minha mente incapaz
de controlar todo esse desatino
Minha alma
entristecida pelas coisas nas quais acreditei
E que se perderam
pelos descaminhos
A casa agora está em
silêncio
O telefone não toca
A lua não apareceu
E o mar não está aqui
perto
Mas a noite está
bonita
O céu está estrelado
E o outono me
conforta
Ana Mascarenhas – 30/03/2014
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