domingo, 30 de março de 2014

CALÇADAS DE OUTONO
O outono chegara
E com ele eu estava em boa companhia
A cidade estava quieta
As folhas das árvores balançavam lentamente numa dança silenciosa
Sobre a calçada apenas uma cadeira
E algumas folhas secas trazidas pelo vento
Sobre o degrau da porta
Um copo de cerveja
Um maço de cigarros
E em mim uma sensação recorrente de vazio
Eu me sentia vazia como a noite da minha rua
Vez ou outra
Um carro que passava
Interrompia meu devaneio solitário
Me trazendo de volta
Daquela viagem sem passageiros
Na sala, o rádio estava ligado
As luzes estavam acesas
Mas em mim quase tudo se apagara
Acendo um incenso e mais um cigarro
Mais uma cerveja talvez
Pra amortecer os sentidos
Os sentimentos
Os medos e os desejos
Que insistem em pulsar
Rompendo o meu deserto na calçada
Não quero sentir nada
Não hoje
Não agora
Não neste momento
Onde tudo parece tão insano
Não neste instante onde em mim tudo parece doer
Meu corpo deformado pelo tempo
Minha mente incapaz de controlar todo esse desatino
Minha alma entristecida pelas coisas nas quais acreditei
E que se perderam pelos descaminhos
A casa agora está em silêncio
O telefone não toca
A lua não apareceu
E o mar não está aqui perto
Mas a noite está bonita
O céu está estrelado
E o outono me conforta

Ana Mascarenhas – 30/03/2014

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